Fechar

João Louro – When Fashion meets Art – Fashion Clinic

22.05.2012
Partilhar

Encontros Imediatos
por Irina Chitas
Vogue Portugal

“-Qual foi a sua primeira interpretação quando confrontado com o mote “When Fashion meets Art”?
Foi um sentimento de satisfação… O que já acontecia noutros países, com marcas conhecidas, estava a começar a fazer-se em Portugal. Foi um sentimento de alegria… Melhor, de alívio: Finalmente!

-Quando foi convidado para abrir uma exposição com este tema, de que forma fez a seleção das peças a exibir?
Não foi o tema que disparou o gatilho. O tema dá uma moldura geral à intervenção, ou futuras intervenções, tal como a Fashion Clinic concebe a  sua “Concept Store”.
Tudo o que se fizesse nesse espaço, segundo este  conceito seria, inevitavelmente, o encontro da Arte com a Moda. A motivação foi antes um binómio de duas perguntas: O que é a Fashion Clinic, por um lado; e quais as características da arquitectura do espaço, pelo outro lado. Essas eram as perguntas que eu fazia. Foi a partir daí que defini as obras a expor.

-Encara a Moda como uma forma de arte?
Todo o processo criativo é um fenómeno de arte.
Ou melhor, eu não distingo fronteiras na expressão da arte. Não sou corporativo: escultura, fotografia, pintura, cinema, moda, etc. são meios para falar do nosso tempo e todos eles colaboram no fenómeno mais lato que se denomina Arte. E mais do que as várias disciplinas que formalizam o fenómeno, o que me interessa é a produção de emoções, o observar os sinais do tempo, bem como, ter e guardar memória. Isso é que é para mim Arte! E se contiver estes factores é de certeza Arte!

-Existem cada vez mais exposições que levam a Moda aos museus. Qual é a importância de, de uma forma inversa, levar a arte a um local de consumo de Moda?
A meu ver, são fenómenos completamente diferentes. A moda chega aos museus quando alcança, ou lhe é concedido o estatuto de arte: Arte com propriedade. E dessa forma transforma-se numa expressão, de um par entre iguais.
Quando a arte chega aos espaços de consumo de moda, como lhe chamou, devo antes de tudo, alertar para o perigo de uma possível ilustração. Um  artista não deve, arrisco a dizer, não pode, “decorar espaços”. Deve  interagir com os espaços, saber potencializá-los e deve envolver todos  os espectadores, que são espectadores inadvertidos. Essa deve ser a  razão principal numa intervenção de um artista num espaço comercial. É, no fundo, “sequestrar” a atenção de um público inesperado e entregar-lhe uma emoção, uma pergunta, uma dúvida, transformando o seu papel, mesmo  que momentaneamente, de consumidor para espectador, através da interacção com a arte. E, nesse sentido, a arte que sai dos museus e das galerias, ganha novos territórios, ganha novos espectadores.

-As novas tecnologias levaram a Moda de paixão de uns a fascínio de todos. Não será o interesse por parte dos museus mais comercial que intelectual?

Discordo totalmente. Como disse a Moda atingiu, foi-lhe atribuída, alcançou, como lhe quiserem chamar, um estatuto no universo da arte. Alcançou-o de forma natural e não lhe encontro qualquer presunção, ou “moda” da Moda. Está nos museus por direito próprio.

-Poderão a Moda e a Arte interagir de forma natural, sem que interesses monetários sejam o mote da relação?

Do ponto de vista criativo estou absolutamente convicto disso. O mundo das ideias não exige essa mediação de valor de que fala. Depois, claro, há que dar valor às coisas… Mas isso tem que ver com a forma como nos organizamos socialmente e de que maneira a sociedade ocidental atribui valor às coisas. A atividade criativa é, talvez, a actividade que mais dificilmente lida com esse fenómeno, porque é a atividade humana mais próxima da liberdade absoluta. Atribuir valor à liberdade é tão difícil que, arriscava dizer, não tem valor, é o que lhe quisermos dar.

-Qual é o papel de um artista que não está diretamente ligado à Moda, nesta discussão conceptual entre duas áreas ligadas por um cordão  umbilical?

Há de facto um cordão umbilical entre as áreas no universo da arte. Mas há uma fonte comum, que é o nosso tempo. E, nesse sentido, o papel que me interessa, o único papel fundamental do artista, é o de se manter atento aos sinais do tempo. Essa é a única maneira de deixar memória e de ser absolutamente contemporâneo.”