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Rui Sanches – Museum – Museu Nacional de Arte Antiga

17.05.2008
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Rui Sanches – Museum
Museu Nacional de Arte Antiga

17 Maio a 31 Agosto 2008

Rui Sanches – Museum – Museu Nacional de Arte Antiga

Museum é uma exposição que questiona a natureza da obra de arte, o seu poder e os seus limites.
Passando para “o outro lado do espelho”, o visitante entra numa instalação onde o espaço foi totalmente trabalhado pelo autor.
A arquitectura da galeria de exposições temporárias do Museu Nacional de Arte Antiga foi pintada de uma determinada cor e, dentro dela, foi criada uma arquitectura efémera em ferro e painéis de madeira, de uma cor contrastante que replica a existente e que serve de suporte para a maioria das obras expostas.
Nesse espaço transformado encontram-se obras escolhidas das colecções do MNAA (pinturas de vários géneros e épocas, objectos decorativos e mobiliário de diversas origens geográficas) em diálogo com peças de Rui Sanches, especificamente concebidas para esta exposição. Esculturas, desenhos e pinturas sobre aço, criam relações de vários tipos com as peças do MNAA. Relações que são por vezes directas, como as que existem entre a Anunciação de Frei Carlos e os desenhos feitos a partir do quadro, ou de outra ordem temática, formal, de ambiente, etc.
As peças são expostas de forma a evidenciar a sua presença, dramatizando a relação com o espectador, através de estratégias de montagem por vezes pouco ortodoxas.
Cria-se assim um ambiente global, onde não existe um percurso narrativo linear, mas uma série de momentos, em que se estabelecem, em várias direcções, relações entre as obras, e para além e aquém delas, com o espaço físico e institucional envolvente.  

“Neste projecto pretendo investigar a relação entre algumas das linguagens artísticas da tradição Ocidental, em si mesmas e na sua relação com outras culturas, e as linguagens da arte contemporânea. Essa relação é, do meu ponto de vista, prioritariamente jogada no espaço museológico.
No espaço do Museu Nacional de Arte Antiga vou criar uma “instalação” que problematize a relação que se estabelece entre vários tipos de objectos artísticos e, sobretudo, entre o olhar do espectador e esses objectos.
Este projecto será realizado sob a forma de uma exposição/instalação e de um catálogo.


A instalação incluirá doze objectos escolhidos das colecções do MNAA:
– Pintura flamenga de autor anónimo “Cristo coroado de espinhos”
– Jan Saenders “S. Jerónimo”
– Patinir “S. Jerónimo numa paisagem”
– Piero della Francesca “Sto. Agostinho”
– Pintura portuguesa de autor anónimo “Sto. António” (verso: “Vanitas”)
– Frei Carlos “Anunciação”
– Josefa d’Óbidos “Natureza morta”
– A.D. Sequeira “Retrato do Conde de Farrobo”
– Relicário gótico com pintura da cabeça de Cristo
– 4 Caixas chinesas acharoadas e douradas
– Caixa/baú indo-português
– Pintura chinesa sobre espelho do século XIX

E diversas esculturas e obras bidimensionais da minha autoria.
Na galeria será criado um percurso/narrativa. O espectador entra na exposição passando para trás de um painel espelhado e depara-se com um espaço onde uma construção linear (em tubo de ferro de secção quadrada com 3 cm de lado) autonomiza e sublinha o desenho da arquitectura. Esta estrutura metálica serve simultaneamente para suportar os painéis de MDF pintado sobre os quais estão pendurados os quadros. Ao longo do percurso o espectador vai encontrando algumas das peças do MNAA em situações que não são as habituais: pinturas colocadas demasiado alto, parcialmente tapadas por um painel ou vistas através do seu reflexo num espelho. Os materiais estabelecem a transição para o meu trabalho: nalgumas das minhas peças o mesmo tipo de perfil de ferro e de painéis aparece também mas integrados dentro da economia da obra. Os vários tipos de bases ou plintos utilizados vão desde o plinto igual ao utilizado na museografia da colecção permanente à base como parte da escultura.
Cria-se assim um processo de continuidade entre o edifício Museu, com a sua arquitectura institucional específica, as obras contemporâneas e, através delas com o espectador. Pretende-se que o espectador seja afectado globalmente pela experiência da instalação, simultaneamente a nível intelectual e sensorial.

A escolha das obras da colecção do MNAA obedeceu a vários tipos de critérios: desde opções afectivas até escolhas mais operativas e conceptuais. O quadro de Piero della Francesca foi escolhido pela sua qualidade intrínseca (é uma obra prima num tempo em que esse conceito é por vezes olhado com desconfiança) e por ser em si mesmo um “museu”: a série de cenas da vida de Cristo que aparecem representadas na estola do santo é uma exposição dentro da exposição.
Há obras dos diversos géneros da pintura; retrato, paisagem e natureza morta, obras religiosas e laicas, obras com um carácter mais pungente outras mais lúdicas, obras europeias ou orientais, de origem indiana, chinesa, produzidas para consumo próprio ou para o mercado europeu.
As minhas peças estabelecem com as peças do MNAA relações diversas: de diálogo, acentuação de um determinado clima, comunhão no carácter temático, utilização e transformação de determinados dispositivos significantes. Há apenas um grupo de desenhos em que é utilizada uma obra específica como ponto de partida: a totalidade e pormenores da “Anunciação” de Frei Carlos.

O catálogo é composto por dois textos, um da autoria de Paulo Henriques e outro de Maria Helena de Freitas, cerca de vinte e cinco imagens a cores, sendo que dadas as características da exposição, algumas delas são da própria exposição/instalação.”

Rui Sanches
Lisboa, 24 de Setembro de 2007