Notas do Autor sobre estes desenhos.
Sempre desenhei para me (re)conhecer e deixar fluir as energias do meu ser mais profundo. Só agora o sei, após ter desenhado o meu dentro e tê-lo projectado no fora dos tempos vivenciados como desenho.
Os meus desenhos correspondem-se no reconhecimento do meu ser neles biografado.
Os tempos destes desenhos são íntimos e por tê-lo intuído e agora sabê-lo, nunca me predispus a mostrá-los, a não ser quando, indispensavelmente, poderiam corresponder-se com as minhas outras obras, as que fui mostrando ao longo destas quatro décadas.
Todos eles são trabalho sobre ideias, sobre a procura de alguma coisa que busco em mim e para a minha obra. São, de facto, a procura do (re)conhecimento de mim mesmo e da minha obra como projecção de imagens reflectidas no papel sobre o meu ser. Por isso, estes desenhos são espelhos através dos quais me vejo no outro lado de mim. São o espírito e o cosmos do que procuro na minha obra.
Reflecti muito sobre o desenhar, principalmente por via da minha actividade de professor de desenho (Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto 1970-1999) e escrevi alguns textos sobre as correspondentes matérias e conteúdos.
Todavia, se me perguntarem, eu direi que não sei o que seja o desenho, que me escapa sempre em cada outra definição.
Os desenhos, aqui apresentados, são uma selecção de muitos mais realizados entre 1962 e 2004.
Eu não desenho constantemente, desenho por momentos ou períodos impulsionais, com uma necessidade premente que se me impõe no gesto gráfico. É que eu também desenho sobre a pele das esculturas, porém de outro modo e com outro alcance e, consequentemente, com outra substância.
Houve períodos em que desenhei intensivamente: em 1965 e 1966 (Ideias para esculturas e Raízes, caules, folhas, flores e frutos); de Novembro de 1968 a Março de 1969 (Os desenhos de Londres); de Dezembro de 1968 a Janeiro de 1971 (Os projectos para o Caderno Preto); de Janeiro de 1971 a Abril de 1974 (Desenhos /Projecto para intervenção na paisagem); de Fevereiro de 1983 a Setembro de 1987 (Sobre a Paisagem); de Novembro de 2002 a Fevereiro de 2003 (Os caminhos da água e do corpo sobre a terra); de Março a Novembro de 2004 (Eu/cosmos).
Como se pode deduzir, nos períodos não mencionados apenas rabisquei ou produzi desenhos integrados ou conjugados com outros meios, como é o caso das obras “Sinais e sabedoria da floresta” e “Sobre o meu corpo o rasto da serpente” também aqui mostradas.
Alberto Carneiro, Coronado, Março de 2005