André Principe
Master and Everyone
17 Abril a 29 Maio 201
Abraçar Árvores
uma conversa entre João Francisco Barreto e André Príncipe
JB: Qual é o teu processo para chegares a um conjunto de fotografias? Porque há sempre uma coisa que podemos fazer depois de escolher um conjunto de imagens, que é dar um sentido qualquer, tentar percebê-las como conjunto, procurar um fio condutor…
Como é que partes das tuas fotografias para um conjunto qualquer?
AP: Acho que tenho uma relação com fotografar, fazer imagens, que é igual à dos músicos, ou dos escritores… Ou seja, para mim o mais importante é escrever todos os dias, ou tocar todos dias… O próprio acto de fotografar precede qualquer estrutura.
Quando eu estava a começar havia uma certa ansiedade minha para saber o que é uma série, o que é uma sequência e principalmente isto: quando é que se acaba. Não sabia muito bem como fazer isso.
A minha relação com começar e acabar uma coisa vem da minha experiência escolar, de andar na escola…
Numa escola, é-te proposto fazer uma coisa, é calendarizada, tem um princípio, meio e fim…
É muito académico, é assim que se ensina hoje, tu tens um projecto, propões-te fazer uma coisa.
Eu comecei por fotografar o que me interessava, sem pensar muito, e depois ia fazendo uma selecção de imagens de forma muito instintiva, imagens que eu sabia que tinham a ver com o que eu queria fazer… Pistas… peças de puzzle que eu não sabia o que eram, mas era como… Imagina que tens muitos puzzles, só que numa caixa, em vez de um puzzle de 2000 peças, dentro duma caixa há 19 puzzles e uns formam uma imagem e outros outra, eu tentava tirar as imagens que eram azuis ou que eu sabia que quando juntas pudessem fazer uma imagem maior… Via-as todas juntas, e conseguia perceber um tema… a ausência… a solidão…
Para mim o processo intelectual nunca foi a força motora, foi sempre uma coisa a posteriori, é uma coisa para acabar, para dar forma, gosto de me balançar na corda mais do que dar um triplo mortal de saída.
(…) Publicada na íntegra no livro Master and Everyone, 2010 – Pierre von Kleist Editions
André Príncipe (Porto, 1976) estudou Psicologia (Universidade do Porto), Fotografia (Faxx Akademie, Holanda) e Cinema (Escola Superior de Teatro e Cinema 1998-2001) e fez o Curso Avançado de Realização na London Film School e Fundação Calouste Gulbenkian.
Foi duas vezes nomeado para o Deutsche Borse Photography Prize e é Prémio Plattform08- New European Photographers, Winterthur Fotomuseum, Winterthur, Suiça, 2008, Prémio de Fotografia Toyota, Porto, 2005, Prémio de Fotografia, Cena d´Arte da Câmara Municipal de Lisboa, 1999,
Publicou o seu primeiro livro Tunnels na Editora Booth Clibborn Editions, e Smell of Tiger Precedes Tiger será editado pela Journal ainda em 2010.
É fundador, com José Pedro Cortes, da Pierre von Kleist editions onde publicou Tsunami Land without Tsunamis, e recentemente a nova edição do livro, Lisboa, Cidade Triste e Alegre dos fotógrafos Victor Palla e Costa Martins assinalando meio século desde a primeira edição do livro considerado já uma referência internacional.
No dia 17 de Abril será lançado o seu livro Master and Everyone pela mesma editora e o seu primeiro filme Before the Ghost House vai estrear em breve no Indie Lisboa 2010.
Tem recebido várias bolsas e apoios à produção artística que actualmente divide entre a Fotografia e o Cinema.