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André Príncipe – Smell of Tiger Precedes Tiger

14.06 31.07.2008
Galeria Fernando Santos (Espaço 531) Porto + Lisboa
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André Príncipe
Smell of Tiger Precedes Tiger

Galeria Fernando Santos (Espaço 531) Porto + Lisboa
14 Junho a 31 Julho 2008

Smell of Tiger precedes tiger é uma narrativa, não aristotélica, sobre o conhecimento que temos dos outros, sobre o que nos é possível conhecer.
É uma narrativa que invoca um fora de campo, fotografias sobre todas as imagens que nunca vimos.

No meu trabalho fotográfico tenho-me interessado pela ausência.
Acredito que as imagens fotográficas mais que lidarem com uma presença – um corpo, uma face, um prédio – assinalam uma ausência.
Ausência no tempo, muitas vezes ausência no espaço.

Há um ano que trabalho no projecto que agora apresento. Um livro de fotografias / exposição / slide show intitulado Smell of tiger precedes tiger. Este trabalho consiste num corpo de 100 a 120 fotografias, metade das quais está feita. São fotografias não encenadas feitas em várias países da Europa, Ásia e América.  Em anexo, segue um pdf com algumas das imagens, embora ainda não sequenciadas.

É um trabalho sobre uma sensação de impossibilidade de penetração psicológica. 

Em 1935, J. J. Slauerhoff, médico, escritor e viajante holandês, afirmou que o mundo se tinha tornado muito curto em termos de distâncias, mas extremamente vasto em termos psicológicos.
A geração dos meus pais e as gerações que a precedem viveram acreditando que conheciam o outro, que conheciam o seu vizinho e o mundo em que viviam.
Esta experiência de conhecimento do outro, ou pelo menos da ilusão de conhecer o outro, de saber o que se passa na casa dos vizinhos, acabou.

Quanto mais observo as pessoas, mais inacessíveis e misteriosas se tornam. Aquilo a que tenho acesso na experiência directa, nas ruas, nos transportes públicos, a presença física das pessoas, a forma como se vestem, os seus gestos, em vez de me provocarem uma sensação de proximidade ao outro, de familiaridade, provocam impressões inconclusivas que temo serem ficcionais e projectivas. Quanto mais olho o outro, quanto mais observo, mais aguda é a sensação da impossibilidade de alguma penetração psicológica.

Já nada é verdadeiramente exótico, sobre todas as coisas já, pelo menos, lemos algumas coisa, ou vimos algumas imagens. Estamos familiarizados com lutas de galos no Peru, esquadrões da morte no Iraque, as dificuldades de vida dos palestinianos, os cânticos tradicionais mongóis, os meandros de espionagem norte-americanos, a cerimónia do chá no Japão ou a extinção dos xamâs na Sibéria. O exotismo acabou. Mas a familiaridade também.

Não estou certo acerca de quem conheço melhor: o aborígene australiano ou os passageiros do metro de Lisboa.

Através da utilização de algumas das regras de continuidade e construção do espaço do cinema clássico, como o campo contra-campo, raccord de olhar, entrada e saída de campo, etc, é formada uma narrativa elíptica, acerca da viagem e quotidiano.
Fragmentos que pareciam não ter qualquer relação, valendo por si mesmos numa lógica you tube, surgem agora numa falsa aparência de continuidade e casualidade que acaba por acentuar a fragilidade e aleatoridade de tudo o que vemos, fazemos e conhecemos.