Avelino Sá
Arqueologias
Galeria Fernando Santos
14 Junho a 13 Setembro 2008
“Quando saíres a caminho da ida para Ítaca, faz votos para que seja longo o caminho, cheio de aventuras, cheio de conhecimentos” – Kavafis (Ítaca)
“Quando se reflecte acerca do conhecimento humano, facilmente se constata que ele resulta da viajem e da memoria da viagem. No início há a viagem rumo à origem – a arqueologia da existência, o fundamento de tudo quanto existe, como nos ensinam os filósofos pré-socráticos. Depois é preciso que a boa-nova passe de geração em geração para que se cristalize na cultura. Isto é a memoria da viagem. É ela que permite o aniquilamento de saberes instituídos, é ela a matéria-prima para novas viagens(…)
(…) Como diria Kavafis, o que dá significado a Ítaca não é o regresso ao lar, mas sim a própria viagem, com todos os Lestrígones e Ciclopes que se terá de enfrentar (…) Toda a obra de Avelino Sá comporta esta dupla dimensão da viagem e da memoria da viagem. E toda a viagem é uma escavação rumo a Ítaca, rumo à origem(…)
Marco Loureiro
“Para Avelino Sá a utilização da encáustica representa a possibilidade de oscilar entre a pintura, o desenho e a escultura, isto se pensarmos nas incisões que revelam o preto de base como elementos que, rompendo a superfície pictórica, vão ampliar a percepção da sua complexidade estrutural (…)
(…) A travessia do artista fixou-se em referentes culturais onde pontificam autores colmo Paul Celan, Robert Walser ou os clássicos ocidentais e orientais. Este trânsito, liberto de constrangimentos ilustrativos, constitui antes uma cartografia possível por temas que poderíamos classificar do seguinte modo: Busca/Passagem/Perda.Esta trilogia estende-se literalmente a uma matriz geográfica e temporal: daí que as suas pinturas e os seus desenhos nos remetam para a ideia de mapas de lugares e tempos perdidos nos confins das mais singulares reminiscências culturais. No caso da presente exposição, a série de trabalhos intitulada “Muros” remete exactamente para a ideia de um levantamento arqueológico que estratifica uma malha de terreno onde se vislumbram resquícios e sinais de uma civilização antiga No contexto da exposição, pinturas como “Olímpia”, “Jónico” ou “Esquéria (Nausicaa), tanto remetem para Homero, como para o poeta alexandrino Kavafis. Assim o que este artista faz é tornar actuais e actuantes temas que relevam de um substrato clássico que devém precisamente da sua intemporalidade(…) Sem tempo, sem companheiros de viagem facilmente indiciáveis. Assim se apresentam estas obras, que escapam a modas mais ou menos voláteis e que dificilmente se categorizam em práticas artísticas coevas (…)”
Miguel von Hafe Perez
Março 2008