Na reflexão da palavra tempo a confiança na linha recta é o garanto que oculta a divagação.
Poderá ser na esperança pelo infinito desta linha que se encontra a trajectória da fuga e talvez seja este o elemento narrador dos problemas que lhe causam desconforto. A esta indeterminação pertence o que é verdadeiramente do seu tempo e da sociedade que a acolhe, mas nunca numa coincidência perfeita com estes. O universo da interpretação contemporânea apresenta um laço duplo que parte do contexto actual para logo se deslocar do anacronismo. Percebe o seu tempo, apreendo-o e torna-se inactual.
Não é este o caso de um discurso sobre genialidade, porque não se trata de estar à frente do tempo.
O que mantém a corrente de criação é uma ligação verbal da palavra tempo à palavra desconforto.
É extemporâneo, portanto. É aquele que está incrustado num tempo e que ao mesmo tempo o questiona.
É, portanto, contemporâneo. É aquele que olha fixamente o seu tempo para dele retirar o oposto do refluxo que o impede de criar sobre forma de repetição (tempo do espaço), de paralisação (tempo de matéria), de narração (tempo da palavra) e da conservação (tempo da estória).
Tempo da Palavra
O tempo da palavra assume duas dimensões; significado e composição visual. Importa a mensagem como vector poético, como o próprio corpo desenhado da palavra, como um instrumento de significação para lá do significado. Parte da sua imagem, como metáfora de uma composição signficante.
Tempo da Estória
O peso da História é um simulacro de estórias várias que definem a força que reside na equação que nos define. Nas origens da criação impera a riqueza de recursos à memória. O tempo não se acusa, mesmo que se rebata.
Tempo do Espaço
O que mais impressiona no mundo construído é que quando o espaço nos desaparece é o tempo que assume a importância da experiência. Um tempo de memória, de continuum, de pausa, de compasso, de ritmo, de movimento, de mimetização do gesto. É nesse tempo que o limiar do espaço reaparece.
Tempo da Matéria
Esta dimensão procura pensar a essência pré-minimalista da substância que compõem um corpo, mesmo que a partir da manipulação da matéria no tempo e a paralisação de experiências ou de fenómenos físicos.
No limite, a degradação.
Andreia Garcia, 2021