Daniel Barroca
Motim
30 Abril a 28 Maio 2011
Após a exposição Recolhendo os Ossos, comissariada por Nuno Faria, na Galeria Fernando Santos em Setembro de 2009, Daniel Barroca prossegue ainda em Motim o tema do colonialismo português em África, ao qual acrescenta questões como a conversão de Roma ao Cristianismo, a questão de Bamyan no Afeganistão em 2001 e por fim a questão da revolta protestante na Europa no séc. XVI.
Comum a todas estas questões históricas, e o principal interesse do artista, está a ideia da violência de uma cultura que se impõe sobre outra capturando-a, amputando-a, subjugando-a e apropriando-se dos seus conteúdos segundo as suas próprias contingências históricas.
E é nessa linha de pensamento que surge a exposição Motim.
“…e encenaram um milagre: sobre o crucifixo da sua igreja, um pedaço de vidro que representava a chaga sobre o flanco de Cristo pôs-se a emitir vivos raios de luz. No domingo à tarde, dia 19 de Abril de 1506, enquanto um ajuntamento de fiéis estava prosternado em delírio místico frente ao crucifixo resplandecente, um cristão-novo que entrara na igreja teve a imprudência de fazer notar que havia uma vela atrás do vidro. Acusado de blasfémia, foi imediatamente linchado pelos presentes. Dois dominicanos percorreram então as ruas de Lisboa, apelando aos bons cristãos que vingassem o sacrilégio. A multidão era composta nomeadamente por quinhentos marinheiros holandeses e franceses, vindos provavelmente de barcos pertencendo a mercadores alemães rivais dos cristãos-novos. Aos marinheiros juntou-se a arraia-miúda de Lisboa e numerosos escravos. Os amotinados neutralizaram alguns agentes da justiça que não tinham deixado a cidade e depois lançaram contra a população de cristãos-novos uma matança selvagem, acompanhada de pilhagens e violações. As vítimas, mortas ou vivas, foram arrastadas para grandes fogueiras; o recebedor de impostos Mascarenhas, alvo principal do ódio, foi perseguido e espancado pela multidão. Ao cabo de três dias, quando pelo menos já dois mil cristãos-novos tinham perdido a vida, a justiça real retomou com dificuldade o controlo da cidade.”
In:
“História dos Judeus Portugueses”
Carsten L. Wilke
Edições 70
Daniel Barroca (Lisboa, 1976) estudou Artes Plásticas na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, entre 1996 e 2001.
Fez o programa de Projecto Individual em Artes Plásticas do Ar.Co em 2002 em Lisboa. Em 2004 esteve na Academia de Espanha em Roma (Itália) como artista residente no âmbito do Prémio para a Jovem Criação no Domínio das Artes Plásticas da União Latina 2003/04. Entre 2008 foi artista residente no Künstlerhaus Bethanien com a bolsa João Hogan atribuída pela Fundação Calouste Gulbenkian. Desde 2001 tem apresentado o seu trabalho em exposições individuais e colectivas e em sessões de vídeo e cinema experimental. Destas destacam-se “Espiritismo” integrada na LisboaPhoto em 2003, “Prémio EDP Novos Artistas 2003” no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, “Estilhaço” na Fundação Carmona e Costa, “Lama” no Museu da Electricidade / Fundação EDP, “Reality Crossings” na Manheim Künsthalle, “Documento.Projecto.Ficção” na Fundação Eugénio de Almeida em Évora, “Soldier Playing With Dead Lizard” no Künstlerhaus Bethanien em Berlim e “Movie Painting” no NCCA em Moscovo. Em 2009 apresentou o seu trabalho (Recolhendo os Ossos) na Galeria Fernando Santos no Porto, na Galeria La Diagonale em Roma e na QBox Gallery em Atenas.
Encontra-se actualmente em Amsterdão na Rijksakademie van Beeldende Kunsten, tendo-lhe sido atribuída uma bolsa de 2 anos de residência artística.