Fechar

Diálogos com Amadeo – 6 artistas, 7 exposições

21.05.2021
Partilhar

Um renovado olhar perpassa, agora, pelos espaços do Museu de Amarante.

O Museu que longamente nos habituou a ver, a pensar, a olhar de perto, e com a devida atenção, para o gesto exemplar de Amadeo, um dos ilustres desta terra que, graças a ele, se fez parte da Europa do seu tempo, acolhe agora, quase surpreendido, outros olhares, para virem como se em visita, ou em peregrinação alegre, até aos seus espaços.

Amadeo, jovem árvore consumida por ardente fogo, preparava-se para devastar toda a cena portuguesa até à interrupção do que conhecera até então.
Movia-o uma força sobre- humana de criação, já que nenhuma tradição local o havia preparado para tanto, nem nenhuma cultura anterior o tinha fermentado nesse génio. Era dele. Essa impenetrabilidade e esse mistério, portanto, chegam a Amadeo de uma essencial solidão na paisagem artística e cultural portuguesa, com cuja tradição de facto quis quebrar, como pelos mesmos anos Pessoa o fez também para a literatura e a poética, e como se sobre essa ferida quisessem ambos fazer nascer outra ideia de criação que levaria o país à Europa a que devia naturalmente pertencer.
Por isso, dele Almada pôde escrever que a sua obra era a primeira descoberta de Portugal na Europa do século XX e isso era, mais do que metáfora, afirmação literal. Amadeo propunha-se ser europeu e arrastar, no seu gesto, toda a nova arte portuguesa.
Quase fugiu para Paris, tal era a pressa de ir ao encontro do que sabia esperá-lo, reivindicando, muito jovem, um destino intuído, em que a família, cultivada e sem necessidades materiais, podia consentir para não o desgostar. E para ali foi tomar pouso confortável, percebendo, em dias passados velozmente, sôfrego de vida e de arte, correndo boulevards e ateliers fervilhantes até às tertúlias boémias de Montmartre, o essencial de quanto se passava e que direcções era urgente tomar.

Ao seu encontro chegam, agora, novas visões, percepções e olhares de artistas que não esquecem esse destino estendido para fora deste nosso pequeno território.
Olhares que dialogam com o do pintor de Amarante, e que o recriam, como se falando com ele através do tempo e dos espaços, indo ao seu encontro por quererem ver nele um início diverso para a arte portuguesa e quererem perpetuar nos seus os gestos o que, antes, se fez nos dele, acertando-os uma vez mais com o tempo.

O nosso tempo.

Bernardo Pinto de Almeida, 2021