Fechar

João Jacinto – Desde Amanhã

09.06 31.07.2012
Galeria Fernando Santos
Partilhar

inauguração: 09 Junho pelas 16h00
pré-inauguração: 08 Junho pelas 22h00
patente até 31 Julho 2012

A Galeria Fernando Santos apresenta a partir do próximo dia 9 de Junho a exposição “Desde Amanhã” de João Jacinto (Mafra, 1966) podendo ser visitada até ao dia 31 de Julho.
Apresenta-se desta feita um conjunto de pinturas (obra sobre papel) que, e segundo o próprio artista, deverão ser vistas como um percurso paralelo, e não oposto, ao trabalho que de uma forma mais imediata o identifica, as suas pinturas (sobre tela) matéricas, densas e volumosas, onde explora ao limite os materiais e cujo resultado poderá ser visto como uma inferência de acaso e intenção num processo incessante,  como as que nos apresentou na sua última exposição na Galeria Fernando Santos sob o título “Pele Atrasada”.

Ambas as linhas de trabalho, pintura sobre papel/pintura sobre tela, têm no artista uma origem muito próxima, a tradição da pintura. Poderão distinguir-se, no entanto, e  unicamente pela aparência imediata, pelo carácter de representação e construção de uma imagem em função da observação, ou dito de outro modo, a tradição da figuração por um lado, e a inexistência de obrigatoriedade de representação de uma qualquer realidade, ou dito de outro modo a tradição da abstracção por outro.

Acerca desta e de outras problemáticas actuais, o próprio artista reflecte:

“Espera-se do pintor uma explicação? Algumas palavras que ajudem a entender? Mas entender o quê? Ou tudo o que se pede é apenas uma decorativa moldura de palavras?

Na sua “irónica” teoria da arte, Ad Reinhardt caricaturava a necessidade demonstrada pelo cidadão comum, de saber o que uma pintura abstracta significava. Anos mais tarde Philip Guston, na altura já pintor ex-abstracto, insurgia-se contra a pergunta “What’s that?”, que o critico Tom Hess lhe dirigiu frente a uma das suas novas pinturas figurativas. Respondeu-lhe Guston: “For Christ’s sake, Tom, if this were eleven feet of one color, with one band running down on the end, you wouldn’t ask me what it was.”

Recentemente o pintor inglês Frank Auerbach declinou o convite que lhe tinha sido dirigido para participar num programa televisivo intitulado “Desmistificar a Pintura”, argumentando que a pintura era um ofício misterioso e que nada havia a desmistificar. Acrescentava repudiar a concepção do pintor como um sujeito abordável, que por acaso pintava. 

Ser pintor é ser outrem («homeless», como Greenberg dizia dos que não lhe seguiam a palavra). É ser-se a mão estrangeira lentamente a emigrar para a que pinta.

E a razão porque se faz, ou antes, a obsessão de pintar, é (roubando as palavras a uma aula de Levinas intitulada “A Subjectividade como An-Arquia”) um desequilíbrio, um delírio que surpreende a origem, que se levanta mais cedo do que a origem.
Desde amanhã.”

João Jacinto, 29 de Maio de 2012

COOLIDGE, Clark (Edit), Philip Guston, collected writings, lectures, and conversations, University of California Press, Berkeley, 2011, pag. 282.
LEVINAS, Emmanuel, Deus, a Morte e o Tempo, Almedina, Coimbra, 2003, pag.189.

“…O João trabalha a horas certas, com temas certos. Três ou quatro vezes por semana vai lá fazer isto: mexer aquele mar de cores até haver uma pintura ou desenhar casas de pintores mortos ou desenhar auto-retratos a partir sempre de um mesmo pequeno e embaciento espelho ou desenhar uma rosa a partir de uma mesma foto que a cada dia se antiga mais.
Abstração, imaginação, desenho de modelo, versões de uma imagem: quatro direcções. Pinturas a muitíssimo óleo sobre tela, desenhos a carvão e cinza de charuto sobre papel. Eis o programa. E chega.
Quatro direcções: vai para todo o lado. Totalmente livre, só faz aquilo. Não me parece que tão cedo o programa mude. Agora o fazer: não sabe, faz. Isto, dito, é demasiado um lugar comum; é preciso ver o não-saber dele para se saber directamente o quanto o que ele faz é sobretudo extrema inteligência plástica somatizada, não sabida.
O João sabe muito bem que na maioria das vezes o melhor é estar calado e simplesmente fazer.
As suas pinturas não têm título. Porque ninguém sabe, acrescentaria eu.
Pintura para ele seria talvez: como nunca saber e insistir sempre em fazê-lo, com cores ferozes de afectividade.
É também o modo como as suas extensas leituras suam através das mãos caladas…”

“Encontrar petróleo dentro de quatro paredes”
João Jacinto por Daniel Melim in oinfinitoaoespelho.blogspot.pt