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João Louro – In God We Trust, 2010 – BES Arte e Finança

19.05.2011
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19 Maio | 15 Julho 2011
BES Arte & Finança

Entre o meio-dia de S. Diego e o pôr do sol de Tijuana

Esta exposição apresenta, sem relatar, a minha experiência nas cidades de S. Diego (EUA) e Tijuana (Mexico).
InSite – Art Projects in Public Domain, uma organização de arte sediada em S. Diego, propôs-me estudar a relação entre estas duas cidades. Viajei quer por S. Diego, quer por Tijuana, acompanhado ou em solitário, com guias, figuras locais, todos “batedores” experimentados, com o intuito de observar o mais recôndito canto e conhecer as mais diversas pessoas e locais.
S. Diego é a cidade próspera da West Coast americana. Uma cidade pequena, muito bem ordenada, com vários importantes “campus” universitários. Uma cidade clara que parece estar sempre ao meio-dia.
Rapidamente descobri que S. Diego era também uma cidade muito militarizada, com extensas zonas de acesso proibido, com uma importante base naval na zona do “Coronado” e uma outra base aérea importante nos arredores da cidade.
A presença militar é muito visível, seja nos desembarques nas praias militares, a lembrar a rodagem de algum filme, nos voos de helicópteros “Apache” sobre as nossas cabeças, ou tão só nas zonas residenciais de militares na reforma, em quarteirões divididos por patentes.
Tijuana está a 27 Kms e é a cidade irmã do outro lado da fronteira. Uma fronteira de fácil passagem, mas de difícil retrocesso. Ir a Tijuana é ir comprar medicamentos na avenida de entrada da cidade, que é uma única farmácia sem qualquer outro tipo de negocio instalado. É também uma cidade onde os americanos procuram divertir-se e são solicitados a experimentar tudo: sexo, comida, drogas, recordações, álcool, etc.
Tijuana é uma cidade nervosa, ao som dos mariachis. É uma cidade amarela, cheia de pó e que parece estar sempre ao pôr-do-sol.
Esta cidade é a última etapa para o mundo ocidental. Os emigrantes que sobem da américa do sul param ali. Vão-se encostando à “Colonia Libertad”, um bairro que cresce todos os dias vários metros, colado ao muro metálico que separa os dois países. Do outro lado do muro, a terra de ninguém, patrulhada pela “Patrol Police”, que zela pela fronteira. Passar para o outro lado ilegalmente é tarefa quase impossível. Contudo muitos mexicanos legais passam diariamente a fronteira para trabalhar em S. Diego. São filas imensas no sentido da América, com vendedores a tentarem a sua sorte entre filas de automóveis a venderem quase de tudo, enquanto o trânsito parado ou a avançar lentamente, segue para a habitual vistoria de passaportes e do automóvel. Há um vínculo claro entre as duas cidades, com prioridades diferentes, mas que se adaptam uma à outra. S. Diego exporta turistas e muito lixo (pneus, automóveis obsoletos, portões de garagem, etc); Tijuana exporta mão de obra desprotegida e barata. Por esses motivos, a fronteira nunca fechará. Todos dependem de todos.