A manga cava areja o peito — sobretudo se a meia elipse ultrapassar em três dedos o externo — e as axilas.
Mas o lado prático da manga cava não deve obliterar a beleza do desenho do corte do tecido, normalmente em algodão branco de estrias finas. A tentação de escanhoar, ou de recorrer a outros métodos mais actuais, é não entender o conjunto e sujeitar a manga cava a uma amputação.
Porque não é apenas a manga cava que está em causa, é a manga cava a revelar uma grande superfície frontal e duas concavidades laterais que se mantiveram perfeitamente lisas durante os primeiros anos de vida do ser que a vai receber, apenas à espera do desabrochar pleno na puberdade e posterior consolidação vigorosa na idade adulta desse mesmo ser: o lustro, por qualquer razão, ao contrário da rugosidade, não vai bem com a manga cava.
Nos nossos dias, o bom gosto está do lado da singela simplicidade da manga cava, na mesma medida em que durante toda a segunda metade do Séc. XVII e princípio do Séc. XVIII esteve do lado da indumentária complexa de Luís XIV. Por isso, optar por soluções intermédias entre estes dois grandes pólos — pecadilho comum —, na ânsia de debutar com estrondo na melindrosa arte do galanteio, não passa de um erro de principiante, e não faz mais do que causar embaraço às pessoas de bom gosto — sempre raras — que eventualmente se encontrem por perto.
Ao pé do esplendor da manga cava, a fatiota domingueira mais vistosa empalidece e debanda.
José Loureiro, 2020