Comissariada por João Pinharanda
Fundação D. Luís I – Centro Cultural de Cascais
1 Julho | 28 Agosto
(…) Na instalação apresentada, temos duas cenas que se sucedem no espaço – devemos pensá-las como tempos simultâneos, duas faces de uma mesma moeda. Mas, de facto, entramos pelo fim, na história que temos vindo a desvendar neste texto. Assim, ao longo das paredes da primeira sala, pendurados como os grandes tapetes antigos eram pendurados, vemos uma colecção de panos de tendas de campanha. A história que nos contam não está neles figurada mas nós sabemo-la de cor: é uma história de homens, a história abstracta da guerra e da morte.
Na sala seguinte, um novo dispositivo cénico inventa a possibilidade de uma boca de cena (fechada) feita de cortinados domésticos. Pelo texto cruzado ficamos então a saber tudo: tem o sabor de uma rádio-novela ouvida em longas tardes de costura, pequenos lanches, cumplicidades e adivinhadas tensões femininas.
O texto situa-nos no tempo, no espaço e revela-nos a dimensão dos sentimentos: Portugal e Guiné, Anos de 1960 e Guerra Colonial, Amor e Morte, Ciúme e Esperança…
Tudo em doses pequenas e muito portuguesas, fugindo matreiramente quer à censura oficial quer à censura familiar, numa hoje impensável candura sexual e contenção de linguagem.
Nas paredes de ambos os espaços, temos uma escassa colecção de imagens: que pode fixar e recuperar, como imagem artística, as próprias cartas (que antes de mais são documentos sociológicos) e a imagem kitsch de um postal de namorados. (…)
João Pinharanda
Maio, 2011