A exposição “Teatro Anatómico” que reúne 35 obras de Maria José Oliveira num diálogo íntimo com desenhos anatómicos de Maria Helena Vieira da Silva, tem curadoria de João Pinharanda e inaugura dia 01 de Junho no Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva em Lisboa
O conhecimento de uma das mais importantes linhas de trabalho de Maria José Oliveira, desenvolvida ao longo de toda a sua trajectória de vida e centrada sobre o corpo (o seu corpo), conduziu-me à colecção de desenhos anatómicos de Vieira da Silva, realizados ainda em Lisboa (1927) no âmbito dos seus estudos artísticos e pertencentes à Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva. Pareceu-me pertinente confrontar um trabalho feito a partir “de dentro” com outro desenvolvido a partir “de fora”.
A observação de Vieira é “exterior”. Porém, o seu rigor confere aos desenhos uma densidade que nos leva a considerar neles uma inequívoca profundidade emotiva; e a considerar a investigação pictórica que desenvolverá nos anos de 1930 e seguintes (as estruturas espaciais, arquitectónicas e urbanas, a fragmentação da luz, a articulação das unidades de cor), na sequência da atenta observação inicial das estruturas do corpo humano.
Em Maria José Oliveira o corpo é mais sentido que visto, sendo representado como entidade inteiramente subjectiva — é o seu próprio corpo como modelo de outros corpos. E há, nas suas representações, uma propositada ambiguidade entre um estado de ruína material e o de uma transmutação espiritual a partir da qual a artista nos conduz para um território de esperança e eterno recomeço.
João Pinharanda