Fechar

Pedro Calapez – Configurações

12.11 07.01.2017
Galeria Fernando Santos
Partilhar

“Si quelqu’un a des oreilles, qu’ il voie, si quelqu’un a des yeux, qu’ il entende”  Jean Arp(1)

Os trabalhos em pintura na exposição “Configurações” revelam-se, na sua maioria, por conjuntos de painéis que assumem colocações determinadas. A ideia de espaço, o que o ocupa e como nele se dispõem formas e cores faz parte do quotidiano do olhar. Os painéis são estruturados e “arrumados” mas restam neles indícios de pequenos desequilíbrios,  sinais que espelham preocupações. Nestas novas obras para além da manipulação da cor em que o arrastamento das massas de tinta já não se uniformiza na normalidade do deslocamento de uma espátula, surgem pequenas linhas, sinuosos traços, cornucópias, manchas, possibilidades de espaços, ornamentos, cenários, que perturbam o formal contraste das cores e a profundidade das superfícies.

A questão do “lugar” coloca precisamente em discussão a organização das obras, a sua exposição. A escolha recaiu assim nas obras que poderiam convocar um diálogo entre si. As configurações são assim duplas: em cada obra e nos olhares que estas cruzam entre si.

É o que acontece quando estamos numa sala e começamos a pensar no que nos rodeia, ou no que vemos ou supomos ver para além das suas portas ou janelas. O habitado adapta-se à invenção do nosso olhar. Jogamos entre o banal e o ficcionado: sala pronta – ampliação dos ambientes – casa em terreno estreito – uma vida simples – sala para conversar – sala para reunir os amigos – a casa poderosa – tetos de vidro – casa a meio da serra – refúgio tranquilo – aproveitando a semana – para muitas funções diferentes – o único espaço que se tem – possuir a configuração típica – um cubo de ferro e vidro – tudo na sala – em qualquer lugar – a sala volta à configuração original – a superfície atrás da área de refeições – múltiplas configurações no mesmo espaço – a parede do salão prolonga-se indefinidamente – loft em deslocação – contentores de vazios – não conseguimos chegar a um único modelo – atravessar o corredor – pontos de cor destacam-se – coisas e momentos – para a biblioteca: preto – uma cabeceira a meia altura – esquinas com tonalidades neutras e marcantes – matizes não saturados – lugar amplo e arejado – não esquecer as propostas sustentáveis – a influência tende a somar-se – eventuais substituições – daria tudo para descer esta escada – parede de pedra natural – espaços integrados – tijolos aparentes – quem entra passa de um bloco ao outro – atravessar este corredor – usos diferentes.

A representação do lugar fere propositadamente o olhar.

Pedro Calapez, Outubro 2016

1 –  Jean Arp,  Jours effeuillés. Paris. Gallimard.

Pedro Calapez
Pedro Calapez
Pedro Calapez
Pedro Calapez
Pedro Calapez
00