‘Pandemos’
Pedro Portugal, Manuel Vieira, Pedro Proença
26.10 – 28.12.2013
Fundação Carmona e Costa
Lisboa
MANIFESTO PANDEMOS
Há um professor de desenho que ensina aos alunos os vários zurros do demónio, há um xamã em Monsanto que tenta vender um Fender por 200 euros, há três amigos que estão fartos de comer cabeça de Picasso.
Pandemos é sobre o sexo que não é nem deve ser sublimado.
Pandemos é sobre o que se passou ontem, sem nostalgias, sobre o que se passa agorinha (com troika e tudo!) e sobre as ganas de continuar a viver uma vida cada vez mais sexy, com ou sem desgraças.
Pandemos é sobre a política sem miséria sexual (para todos, para o povo!), e de como há uma continuidade (pesem embora as privacidades) entre a família, a vida pública e o ir para a cama com.
As noitadas em locais sinistros, as teorias sobre a pilosidade rapada, os fados cantados de improviso, uns tipos que não sabem jogar bowling, as antigas amizades, a paixão assolapada, as crianças que ao longe gritam, a chinfrineira da passarada de madrugada, o riso constante, as ideias desvairadas deitadas para o lixo, os prazos que não são cumpridos.
Pandemos é sobre a paixão, o mais possível carnal, concreta, sem fantasias para além das sexuais, é sobre a fidelidade, o ciúme, o querer e não querer ter filhos, os efeitos colaterais do Cipralex, o não saber o que queres, o teres mais de 50 anos (ó senilidade), o ires para a praia de havaianas, o vestires casaca e beberes champanhe, os 30 anos da homeostética, o não ganhares um tostão nos últimos anos, o fazeres certas coisas clandestinamente, o adorares estar uns dias no campo, o ócio, o trabalho e as virtudes das panelas Cilampo.
Pandemos são três amigos que foram convidados por uma grande senhora para fazerem uma exposição que não sabem o que fazer sobre essa oportunidade que têm entre as mãos.
Pandemos é um filme (sim, um filme!) que é feito sem meios, com um som desaconselhável, com participações involuntárias, com aulas de nú académico, com mulheres que gritam uau! acariciando uma velha estrela rock numa cama debaixo de um Julião Sarmento. É um filme inspirado sobre a falta de inspiração e de como os santos ou os psicanalistas talvez possam devolvê-la.
É um filme que estava para ser um road-movie e não é. É sobre um homem que só vê cús. É sobre o Minotauro perdido no labirinto da arte.
Pandemos é sobre a amizade, sobre os milhares de livros que escrevemos (literalmente), sobre demasiados projectos começados, sobre tudo o que fazemos para não fazer outras coisas. Pandemos é poesia escrita num telemóvel, sentimental, sobre o deus Pã, numa noitada, às 4 da manhã. Pandemos é o andar a conceber e usar centenas de diferentes tipografias. Pandemos é sobre doutoramentos
e mestrados e o diabo que os carregue, é sobre a sedução e passear o cão que tenta violar a dona, é sobre o bulling, sobre os vómitos do Fernando Brito, o look no facebook, sobre as amigas (“giríssimas”!) do Comendador, sobre a dislexia, sobre uma certa cobardia, sobre piropos e ironia, sobre o sei lá e o quem diria.
Pandemos é o reencontro dos que nunca se deixaram de reencontrar, do MANUEL JOÃO VIEIRA, do PEDRO PORTUGAL, do PEDRO PROENÇA, nas praias, nas esplanadas, em casa uns dos outros, nas varandas — a exposição, o filme, o catálogo, os livros, são fragmentos de uma vida com entusiasmo, esplendorosa, cruel, neste mundo ainda por ora maravilhoso, e tudo isto estará em grande, dia 26 de Outubro na fundação carmona e costa.