Phill Hopkins
Some Paintings with a Figure and some Without
11 Junho a 02 Julho 2022
“O mundo tem a cor dos nossos olhos.”
Teixeira de Pascoaes
O trabalho pictórico de Phill Hopkins desenvolve-se na premissa substancial de integrar os processos naturais do espelho da natureza visível no seio plástico transformativo da ideia artística da obra.
A natureza revelada, constatada, integrada na conceptualização do fazer-da-obra permitem uma verificação empírica que o artista captura, mediante estratégias mentais ou de reprodução técnica, como o caso da fotografia, para se suportar delas como modalidades apriorísticas de intenção transferidas posteriormente para a tela, para o espaço isento, como tabula rasa, servidora ideal de transmissão da parte imaterial para a materialidade do suporte. A natureza evidenciada pela e na obra mostram uma diferenciação, ou melhor uma divergência concernente ao levantamento puramente mimético, de reprodução exacta ou fidedigna das qualidades reais retinianas.
O seu desenho e a sua pintura desvelam um atravessamento radical da simples observação, da factual constatação que se estende à sua volta, sendo antes os elementos pictóricos inseridos no espaço como intencionalidades poéticas de habitar o quotidiano, de fazer surgir na superfície da obra uma estranha familiaridade superficial, que deslocam a imagem representativa da paisagem, do plano da natureza capturado, para um mais além representativo, num domínio reordenador pertencente ao reino da metáfora, da transferência semântica da realidade para uma esfera do verosímil, da pura possibilidade.
Nas palavras do artista “the landscape acts as a mirror, reflecting patterns in myself, inviting and allowing me to make intimate physical and emotional connections.” Estas conexões servem de mediação entre o gesto criador e o olhar organizador desenvolvido pela obtenção dispositiva espacial, que uma vez interligados supõem uma abordagem da realidade contaminada pela projecção intelectiva, emocional, confessional do artista, num retrato paisagístico que tanto tem de natureza primordial, matricial, como de retrato do próprio, ou da figuração (tanto presente como ausente) numa abordagem dual à inscrição de sentido na obra.
Phill Hopkins parece aproximar-se da matéria do mundo por intermédio do artifício dos sentidos, desregulando as fronteiras estabelecidas daquilo que é a tradição generalizada da landscape painting, indo ao encontro do instante da aparição e da sua aura momentânea através de um gesto único, singular e irrepetível, cristalizado consequentemente na obra, como retrato duradouro de pertença tanto interna e externa da naturalidade da natureza.
A natureza surge deste modo no trabalho como um catálogo multímodo de experiências, sensações, reminiscências, nomeadas pela representação imagética complexa cujas estruturações se desenvolvem como um desvio da figuração perspéctica e da paleta de cores legitimada na autenticidade.
A composição de Hopkins parte do exterior visível para uma profundidade ontológica interna, cuja imagem retorna à superfície codificada pela singularidade do seu processamento conceptual.
Por Rodrigo Magalhães
(PASCOAES, Teixeira de. D. Carlos. Assírio & Alvim, Lisboa. 2010, p.75)