“What suits me is the silent hall” disse o Empédocles de Hölderlin momentos antes do seu suicídio por tentativa de demonstração divina, “mine is the spacious chamber looming high above”. Unindo-se à cratera do vulcão Etna — crendo que em si se contemplariam em plenitude, fogo, terra e ar —, o filósofo grego prevê provar a sua imortalidade enquanto deus. Contrariamente ao esperado, a sua revelação é contrariada pela devolução a terra de uma das sandálias que calçava aquando da queda, transformada agora em bronze e evidenciando não só a sua finitude, como a tragédia do seu engano.
Rui Calçada Bastos (Lisboa, 1971) apresenta o Empédocles do seu imaginário, um misantropo contemporâneo absorto na imensidão de uma erupção para a qual caminha. Colocada junto à pintura, como que se ausentando da imagem e demonstrando a sua fisicalidade evadida desta, repousa uma sandália tibetana em bronze (molde de um objecto recuperado pelo artista no início da década de 90 e que desde então o acompanha na bibliografia objectal do seu estúdio). Com origem num par de projetos distintos, estes dois elementos relacionam-se agora numa narrativa plástica e literária alheada de qualquer anterior intenção figurativa. Frequentemente reconhecido como um dos assuntos mais transversais na obra do artista, é a sugestão da auto-representação aliada à presença de uma aura melancólica e contemplativa que posiciona esta instalação numa semelhante tonalidade poética.