A exposição de pintura de Sanja Milenkovic na Galeria Fernando Santos reflecte acerca da natureza e dos seus conflitos entre étnicismo e urbanismo. As paisagens de Sanja Milenkovic possuem diferentes ingredientes que lhes conferem uma atmosfera irreal. A artista pinta de forma muito institiva e tenta sempre conferir às suas obras algum movimento – conseguido através do uso de diferentes tipos de pincéis e técnicas – que lembra o Futurismo. As obras baseiam-se na memória e nas memórias da artista e em instantes fotográficos que se modificam a todo o momento, quando passados para a tela, criando algo novo.
Nestes quadros, o papel da figura humana é sempre importante, não só para esclarecer quanto à escala, mas também para conferir à pintura um sentido de liberdade e infinito. A figura humana dá à pintura ritmo e os observadores são livres de imaginar a cena em duas dimensões diferentes, mas complementares. O fundo é por vezes abstracto o que coloca em evidência o primeiro plano onde a figuração ganha realismo. Por outro lado, há por vezes a sensação de estarmos perante diferentes níveis de representação e de importância dos elementos representados, uma vez que as telas apresentam o plano de fundo incompleto, esboçado. A tinta que escorre é assumida, não como erro, mas como pertinência, tal como é assumida a textura da tela. Aliás, as camadas de tinta não a dissimulam, o que nos faz reflector acerca das fronteiras entre a representação realista e o cartoon.
A exposição que Sanja Milenkovic apresenta na Galeria Fernando Santos, no âmbito da sua participação no Prémio Arte Laguna, Veneza, conta com telas de várias dimensões que permitem ao observador percepcionar o que é representado de formas diferentes: nas telas de grandes dimensões é possível ao observador sentir- se parte do espaço, parte da paisagem, enquanto no caso das pequenas telas, o observador assume quase o papel de voyeur que prescruta a cena onde outros se movem, como que espreitando pelo buraco da fechadura. As suas influências parecem ser oriundas de um leque de artistas tão variado como Martin Kippenberg ou Eric Fischl, num regresso a um certo realismo na pintura – e num regresso à pintura em si, cujo anunciado fim foi sem dúvida um exagero.