Santiago Ydáñez
Obra Recente
12 Março a 23 Abril 2011
“Santiago Ydáñez – Territórios do Sagrado”
Por Jorge da Costa in catálogo da exposição “Santiago Ydáñez, Sem Título, 2010“
Trabalhando muitas vezes a uma escala monumental, Santiago Ydáñez inscreve-se no raro grupo de artistas desta geração que trabalha a pintura a partir do território da figuração.
Mais do que qualquer outro tema, a representação do rosto humano adquire na sua obra capital importância, ainda que de modo algum em absoluto. Nela são também frequentes as representações de animais, especialmente os submetidos ao trabalho de taxidermia, corpos nus, figuras religiosas, paisagens nevadas e, recentemente, imagens apropriadas à iconografia das tradicionais Festas de Inverno de Trás-os-Montes.
Levantando questões como a da auto-representação, a sua matriz referencial encontra-a no recurso ao próprio rosto. Frequentemente faz dele o seu instrumento de mediação, a partir do qual, numa espécie de mudança performativa de identidade, constrói as suas “personagens”, ou antes, outros “eus” sem, contudo, e enquanto veículo e protagonista efectivo e afectivo do exercício de representação, ocultar a total presença de si mesmo.
Atraído pela mesma aparência realista do rosto humano, Santiago Ydáñez tem vindo a explorar obsessivamente temas da iconografia religiosa. As imagens de rostos de santos, em particular de virgens dolorosas, sucedem-se como os grandes planos cinematográficos, capazes de envolver instantaneamente o espectador. Aqui, o enfoque vai para o mesmo olhar vítreo e inexpressivo que encontramos nas diversas representações de animais reconstruídos fielmente pela mestria do taxidermista – como o touro que apresenta ao centro da exposição – arquitectando, através do conjunto de géneros, ambientes capazes de insinuar, simultaneamente, “uma simbiose de espiritualidade profana com o visceral humano e animal” (Fernando Castro Flórez in Antes e Depois do Festim, 2006)
Sagrado e profano, carnal e espiritual, humano e divino constituem-se, por isso, campos fundamentais ao léxico artístico de uma obra onde confluem com o mesmo à-vontade géneros como o retrato ou a natureza-morta, o realismo barroco ou a paisagem romântica.