O nosso desejo de ver rostos é inesgotável, inato e ancestral.
Afinal, e tal como para o sapo, cujo arquétipo de beleza é a sapa (Voltaire), a solidariedade da espécie pede-nos que procuremos o que podemos identificar. O que não podemos identificar, o que não tem um rosto – como Deus, por exemplo – é mitificado. Conhecer o rosto de Deus era conhecê-Lo e por isso, deixar de acreditar Nele. Não colocamos essa questão com o Homem: o facto de existir confere-lhe duas dimensões: uma interior e outra exterior (aparência, rosto). No entanto, nem mesmo a ideia de que, segundo Schopenhauer, o Homem exterior é um reflexo do Homem interior, pode ser inteiramente verdade. O rosto é um interface, mas não um reflexo.
É pois por isso que quando nos deparamos com as obras do artista Santiago Ydáñez, não podemos aviltar-nos a concluir: “conheço”. O seu rosto, que pauta todas as obras desta exposição, expressivo ou não, mono ou policromado, é sempre o rosto de alguém que não se dá a conhecer.
Obviamente a figuração muito ajuda: num altura em que a arte é cada vez mais hermética, a figuração é terreno seguro para a interpretação. O observador identifica, mas não descodifica. Os rostos de Santiago Ydáñez – o seu rosto, de resto – são como máscaras: plásticos, manchados e não desenhados. E como máscaras, ocultam algo. Não que o artista pretenda ser enigmático – mais depressa diríamos que é lírico ou violento, consoante as obras -, mas o seu modus operandi permite que trabalhe a mancha de cor no rosto como objecto, quase como plasticina.
O fundo corrobora esta importância do primeiro plano, já que a sombra, a gradação ou a figuração são inexistentes.
Santiago Ydáñez estudou Belas Artes na Universidade de Granada, recebeu importantes distinções e é actualmente um dos jovens pintores com maior projeção internacional. Está representado em coleções públicas das quais se destacam, entre outras, a coleção do Museu Rainha Sofia em Madrid. Vive entre Granada e Berlim onde, juntamente com outros artistas criou a Ivaliden1.