Antoni Tàpies – Vª Bienal Internacional de Gravura do Douro, 2010
20 de Agosto a 31 de Outubro 2010
Museu do Douro
Convidados pelo Núcleo de Gravura de Alijó a comissariar esta exposição da V Bienal Internacional de Gravura do Douro, cuja homenagem recai na obra do grande mestre Antoni Tàpies, foi pois, com enorme orgulho e um sempre renovado prazer que pudemos, assim contribuir para voltar a rasgar fronteiras físicas e unificar vontades ibéricas, desta feita numa região “edificada” por três séculos de paixão como o é o Douro…
Moveu-nos pois, a enorme motivação de voltar a receber no nosso país uma exposição deste mítico pintor catalão, um dos mais importantes artistas do século XX e figura proeminente e obrigatória do informalismo da pintura europeia, cuja obra, de enorme importância histórica, se reveste ainda hoje, aos 86 anos de idade, de uma actualidade e acutilância que não deixa de nos provocar perplexidade.
Cumpre-se hoje, aqui, no Douro, terra de suor e esperança, a proposta de Torga de reivindicação de um legado cultural comum para as pátrias de Camões e Lorca…
…Ser nesse chão árido e hostil um novo criador de vida, dar aí uma resposta quotidiana à morte, transformar cada ravina em parapeito de esperança e cada bagada de suor em gota de doçura – eis o que o Titã ensinou aos homens, e o que Zeus lhe não perdoou. Por isso o seu perfil dos montes, do seu coração mordido corre o sangue da perpétua agonia, e da boca das suas criaturas agradecidas se levanta um protesto indignado. Mas o céu é surdo. E enquanto a águia do destino continua a devorar o gigante, de croças e tesoura na mão, ou arregaçados nos lagares, ou no vindimeiro às costas, os discípulos do grande revoltado vão-no vingando, seguindo-lhe a lição. Patético, o estreito território de angústia, cingido à sua artéria de irrigação, atravessa o país de lado a lado. E é, no mapa da pequenez que nos coube, a única evidência incomensurável com que podemos assombrar o mundo.
Citamos o grande Miguel Torga – porque eu sou quem eu sou – em Canção do Rio Mais Alto, médico feito poeta e incontornável figura do Douro, para quem o iberismo seria um sonho, ainda que platónico, de harmonia peninsular de nações, todas irmãs, todas independentes, mas unidas num único espírito, e fazemos assim o paralelo com o grande mestre catalão Antoni Tàpies, igualmente homem das origens, igualmente humanista e rebelde, resistente defensor de raízes e liberdades, pintor da densidade e do absoluto, na busca da verdade e de (como Torga) caminhos novos para o reino das coisas belas e possíveis.
Tento encontrar a verdade constantemente, sei que é muito difícil aproximar-me de uma certeza total, talvez seja mesmo uma impossibilidade, mas encontrando a minha verdade creio que faço algo útil para toda a sociedade. A verdade é fundamental”
E, acreditamos, como acredita Tàpies, na arte como território primordial para a liberdade e busca de conhecimento, de nós próprios, dos outros, do mundo…
Joana Ferreira Gomes
Galeria Fernando Santos
Porto, Julho 2010