22.03 – 29.06.2014
CACGM, Bragança
O corpo de trabalho de Bernardí Roig (Palma de Maiorca, 1965), um dos mais importantes artistas da contemporaneidade espanhola, tem vindo a centrar-se nas questões do olhar e, por inerência, nas questões da cegueira.
Tomando de empréstimo o título do romance de José Saramago, com o qual estabelece uma profunda rede de afinidades, esta é também, da afirmada carreira artística internacional, a primeira exposição individual de Roig no nosso país.
Grandemente ancorada a uma formalização física profundamente visual, onde se associam a escultura, o desenho e o vídeo, a obra radica, em concreto, na sua dimensão conceptual a partir da qual preconiza uma complexa reflexão sobre a condição humana e a sua incapacidade de ver e comunicar.
A exteriorização da metáfora da cegueira, que o artista define como “o fracasso do olhar”, acentua-se em cada uma das inquietantes esculturas brancas à escala humana que, de olhos fechados, evidenciam na incapacidade de ver uma profunda exasperação, como se fizessem dos próprios olhos “uma espécie de espelhos virados para dentro”. (…) Em confronto com a luz, que aqui atua como dispositivo de cegueira, sobressaem esculturas monocromáticas, quase espectrais, resultantes de moldes realizados diretamente sobre o corpo a partir de modelos humanos banais.
Paradigmas do anti herói, que contrariam a representação do ideal generalizado da escultura da era clássica, as figuras de Roig apresentam-se como figuras-tipo de homens banais. De torsos descobertos e descalços, vestem apenas calças verdadeiras, desabotoadas na cintura, que lhes acentua a curva do ventre e as aproxima do estereótipo do homem comum. (…) Cada escultura parece mergulhar numa cegueira de “cor branca uniforme, densa, como se se encontrasse mergulhado de olhos abertos num mar de leite”, a mesma da personagem de Saramago que, diante de um semáforo, verbaliza um desconcertado “estou cego”. (…)
Do seu projeto artístico, que nada tem a ver com a criação de uma semelhança meticulosa ou com a aproximação mimética aos códigos de representação realista, derivam cenários expressivos e inquietantes, quase oníricos, capazes de causar no observador sentimentos que oscilam entre o desconforto e o fascínio. (…) Como as esculturas, que sustêm no seu estatismo a memória do movimento, também a série de desenhos parece encontrar no seu exercício de representação a mesma afinidade com o corpo. (…)
Comissário: Jorge da Costa
Produção: Centro de Arte Contemporânea Graça Morais | Câmara Municipal de Bragança
Colaboração: Galeria Stefan Röpke, Colónia; Galeria Max Estrella, Madrid; Galeria Fernando Santos, Porto e Galeria Bernd Klüser, Munique.