Bosco Sodi
“Croatia” 16.05 – 14.07.2013
IVAM – Instituto Valenciano de Arte Moderna
Valencia, Espanha
A presente exposição de Bosco Sodi, ”Croatia” integra seis obras de grande formato que confrontam o espectador com a gestualidade do acto pictórico, empregando recursos cromáticos e matéricos. Cada uma das peças que constituem a série, ainda que mantendo uma individualidade própria, integram-se no conjunto configurando uma única “imagem abstracta”. Croatia estabelece um jogo de luz realçando as tonalidades laranja e vermelha e ocupando a tela num relevo que transita do plano bidimensional ao tridimensional.
Na realização desta série o artista trabalhou em simultâneo, com a mesma preparação de pigmentos e ingredientes orgânicos por forma a produzir um efeito de continuidade entre as obras. “Croatia” é um conjunto de pinturas articuladas em torno de características físicas comuns: grandes formatos, potente presença matérica (conseguida mediante uma técnica mista que inclui pigmentos naturais, serrim, terra e cimento), a intensidade da côr e suportes de formas básicas rectangulares, podendo considerar-se que constituem um políptico.
Bosco Sodi (México D. F., 1970) iniciou a sua carreira artística em Barcelona, deslocando-se mais tarde para Berlim e, ainda que mantendo atelier em ambas, assim como no México, a maior parte do tempo reside em Nova Iorque.
Na sua plasticidade serve-se de recursos conceptuais, cromáticos e matéricos que descrevem passagens espirituais e emocionais que o artista transporta para cada uma das suas obras. Sodi converte a pintura a óleo numa espécie de escultura. Gera uma tensão entre a ausência de formas que compensa com a abundância de matéria e com as texturas terrosas erosionadas e gretadas. O relevo que deixam o serrim, as fibras de juta e outros materiais orgânicos misturados com os pigmentos que emprega sobre as telas de grande formato, provêm dos lugares mais recônditos do planeta e a sua busca é um dos motivos fundamentais para o artista.
Bosco Sodi utiliza as mãos na realização das suas obras, que aplica sobre o suporte com diferentes graus de intensidade: em alguns casos em capas uniformes e harmoniosas, em outros casos configurando pregas, gretas e craquelés imitando um processo similar ao da terra que resseca. Nas suas referências aos materiais, Sodi manifesta que adquiriu o gosto pelo orgânico de artistas como Mark Rothko e Antoni Tàpies, criadores que enfatizavam a intensidade da côr e a energia da matéria.
Nas palavras do próprio artista esta exposição: “[…]apresenta uma série breve e simples na qual se pode apreciar a técnica que trabalhei nos últimos três anos. São pinturas que não têm um significado, não quero dizer nada de específico, quero unicamente desafiar o público, motivar a curiosidade. Creio que evoluí pouco a pouco, centrei-me mais na matéria, aproximei a pintura da escultura, e aprecio mais este tipo de pintura mais espontânea em que a matéria orgânica se apropria do espaço”.
Nas suas criações, caracterizadas pela monocromia, Bosco Sodi utiliza a côr livre de funções simbólicas ou descritivas, para centrar-se nas suas propriedades ópticas, fazendo com que a luz crie matizes e efeitos invisiveis à primeira vista, sugerindo a própria obra como fonte de luz própria e da autonomia do valor cromático, como o próprio artista se encarrega de explicar: “A verdade é que não gosto de dar nem títulos nem referências que viciem a observação; por exemplo, se lhes chamo “fogo”, ninguém verá mais do que fogo”.
A exposição “Croatia” mostrou-se no Antigo Colégio de Santo Ildefonso no México, no Museu dos Pintores Oaxaqueños, na cidade de Oaxaca; no Museu de Arte de Ponce, em Porto Rico, e agora no IVAM, Valência.