A pintura de Jorge Galindo é facilmente classificada através de vocábulos bem conhecidos: “expressionismo abstracto”, “gestualismo”, “collage” são alguns desses termos que compartimentam – e, em última análise, positiva ou negativamente – contextualizam, os trabalhos de Jorge Galindo.
É óbvio, quando vemos as obra da exposição “Textiles” na Galeria Fernando Santos (que volta a receber Jorge Galindo com exposição individual após um interregno de 14 anos) que esses termos nos surgem, mas eles não são definidores do trabalho do artista.
Senão vejamos: o suporte – que dá título à exposição – contém em si um outro trabalho. Os tecidos são cosidos à mão de forma bastante regular e posteriormente intervencionados. Não são farrapos, mas pedaços de telas em potência sobre as quais o artista decalca rodas de bicicleta ou pegadas. Nestes têxteis são coladas partes de outros têxteis de uso corrente (bolso, luva, cachecol) que tornam as obras mais intimistas e aproximam o espectador delas.
A abstracção contém desta forma apontamentos figurativos, não podendo por isso ser somente “abstracção”. Caem pois por terra os argumentos iniciais que classificam à priori o que é observado.
Os elementos referidos funcionam como memórias de acontecimentos (um concerto da nossa banda favorita – cujo ambiente festivo é corroborado pelo padrão de alguns tecidos -, uma receita mal sucedida…) e os quadros, numa visão extrema, tornam-se folhas de diário, ou registos pictóricos.