Manuel Botelho
Aerogramas
Espaço 531
7 Março a 14 Abril 2009
O pano de fundo dos trabalhos mais recentes de Manuel Botelho é a guerra que Portugal travou entre 1961 e 1974. Graças ao 25 de Abril, Botelho não chegou a ser mobilizado, mas viveu toda a adolescência na expectativa de um dia ser obrigado a combater em África.
Depois de 3 séries de fotografias dedicadas ao tema, apresentadas em 2008 na galeria Lisboa 20, no Museu de Arte Contemporânea de Elvas e na Fundação EDP, Botelho regressa ao desenho.
Aerograma é uma exposição para ver e, literalmente, ler.
Estes trabalhos articulam texto e imagem, citando excertos de depoimentos e de correspondência, em particular aerogramas, trocada entre os militares em serviço em Angola, Guiné e Moçambique e as respectivas mães, namoradas, esposas e madrinhas de guerra.
Para além de reflectir a vivência dos militares, surge aqui também a voz das mulheres que, na retaguarda, com eles partilharam esse tempo.
Algumas, raras, acompanharam os maridos durante parte da sua comissão no Ultramar; a todas as outras nada mais restou do que a magra compensação da correspondência escrita.
Promovidos pelo Movimento Nacional Feminino (uma organização ligada ao regime de Salazar e Caetano), com custos de envio muito reduzidos para a generalidade da população e totalmente gratuitos para os militares em serviço no Ultramar, os aerogramas foram utilizados de forma maciça ao longo dos 14 anos de guerra.
A sua implementação permitiu mitigar os efeitos do isolamento das tropas, condenadas a viver 2 anos em condições de grande precariedade e alto risco, longe da terra natal, da família e dos amigos.
Manuel Botelho nasceu em Lisboa em 1950.
Com formação inicial em arquitectura (ESBAL, 1976), estudou pintura em Londres como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1983 e 1987 – na Byam Shaw School of Art e na Slade School of Fine Art –, e concluiu o doutoramento pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em 2006. Expõe regularmente desde 1986, tendo realizado mostras individuais na Fundação Calouste Gulbenkian, no Museu Nacional de Arte Antiga, nas galerias Módulo, Lisboa 20, Fernando Santos, etc. Reside em S. Pedro do Estoril e é professor auxiliar na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.