Nikias Skapinakis
Imagens 2007
17 Novembro 2007 a 5 Janeiro 2008
(…) O instinto pictórico parece fazer parte irrecusável da natureza humana.
Não são apenas os grandes autores que asseguram o caminho da pintura e a continuidade do espírito criador desde o tempo das cavernas; o sal da pintura é, de facto, constituído por uma infindável legião de autores frequentemente anónimos – os escultores cicládicos, os vitralistas das catedrais, os iluministas dos textos sagrados, os paisagistas chineses das Montanhas de Verão, os petits maîtres do modernismo… (…)
É interessante verificar que, numa obra de Kabakov, representando um homem suspenso por um guindaste sobre o vazio e um anjo que diagonalmente voa para ele, se repete (por coincidência?) o esquema de Greco no chamado “Tríptico de Modena” – um anjo baixa, também, dos céus para o suplicante que está alcandorado no cimo de um monte, sobre o abismo. (…)”
Nikias Skapinakis, in JL – Jornal de Letras, artes e Ideias, 15 de Setembro de 2004
“As longas citações que escolhi para epígrafe, do pintor que é também um notável escritor de arte, tanto do ponto de vista da história como do ensaísmo cultural, devem ser entendidas como eficaz introdução às obras que constituem a actual exposição: inscrevem o corpo antiquíssimo da pintura numa matriz orgânica partilhada (“o instinto pictórico” como “parte irrecusável da natureza humana”) que, não compondo qualquer cadeia, permanentemente se reencontra como memória imagística.
Por isso, há ritmos, sugestões de afinidades: figuralidades que nos emocionam por si próprias e pelo halo de figuralidades diversas e dispersas que nelas pressentimos. E, embora, no final do texto citado, Nikias afirme que “só é possível continuara a pintar com a consciência de que a pintura pode desfalecer de vez”, a obra é o tranquilo esconjuro dessa reflexão. (…)”
Raquel Henriques da Silva
in Catálogo da Exposição Nikias Skapinakis, Galeria Fernando Santos, 2007