“O Maior Espectáculo do Mundo”, título da exposição que Pedro Valdez Cardoso apresenta na Galeria Fernando Santos em 2018, não a esgota. Ou seja: o que visitante pode ver tem de facto referências visuais ao universo circense e até a uma certa “mise em scène” (o autor vem da área da cenografia), mas não fica a ele circunscrito. É aliás, uma obra tão abrangente que vai desse excesso do referido universo circense, ao minimalismo presente em algumas das obras apresentadas, em branco, impossíveis de penetrar, escondidas por outra roupagem que, ao dissimular as suas formas, retiram-lhes o seu sentido de objectos práticos.
Há várias facetas nesta exposição. Por um lado, o lado fragmentário da mesma, lado esse que é visível em obras como “Sem título (Even horses become donkeys)”, “Faster, Harder, Stronger” ou “The greatest show on earth” (este último ligado à ideia de geografia e cartografia, tão cara ao percurso do artista). Estas obras têm em comum o sentido de assemblagem, de colagem, não somente como técnica, mas também – e principalmente – como afirmação de uma intervenção do artista no mundo, como se o mesmo estivesse a consertar ou a compor o que de errado há no que nos rodeia. Não será por isso casual que das obras referidas acima, todas elas estejam ligadas à palavra escrita, já que estas se relacionam com outras como “Your weakness my strenght, my strenght your weakness”, “A cat is not a tiger” ou mesmo o desconcertante (porém eloquente) “Ufff!” Este uso da palavra escrita actua um pouco como pleonasmo performativo, principalmente nos casos de “Your Weakness my strenght, my strenght your weakness” ou “Sem título (Even horses become donkeys)”.
Por outro lado, e igualmente notório nesta exposição de Pedro Valdez Cardoso, está a noção de máscara, dissimulação, com a utilização de objectos do dia-a-dia que, cobertos por materiais também eles dissimulados, turvam a nossa capacidade de avaliação. “Resiliência” ou “Monstro” são disso exemplo: um dos trabalhos sugere-nos a estaticidade do cimento; o outro, a plasticidade do barro. No entanto, tanto uma obra como a outra mantém o carácter dos objectos que a compõe, sem que isso prejudique ao toque, mas sugira a incompatibilidade entre o que se vê e o que se entende.
Na exposição que ficará patente na Galeria Fernando Santos até ao início de Março, estão presentes todas as ideias de dissimulação, de fragmentação, de discurso, de composição atrás referidas, mas também, um certo desencanto e fastio, uma crítica subtil às ao neo-liberalismo que preconiza elementos sociais pró-activos e bem-sucedidos, esquecendo aqueles que por diferentes razões não o são ou não o querem ser. Um elogio ao fracasso que devemos elogiar.
Juliana Pinho, 2018